Raul Bopp (1898-1984)
– Vamos brincar de Brasil?
Quero morar numa casa grande
... Começou desse jeito a nossa história
Negro fez papel de sombra.
E foram chegando soldados e frades
Trouxeram as leis e os Dez Mandamentos
Jabuti perguntou
“– Ora é só isso?”
Depois vieram as mulheres do próximo
Vieram imigrantes com almas a retalho
Brasil subiu até o 10.o andar
Litoral riu com os motores
Subúrbio confraternizou com a cidade
Negro coçou piano e fez música
Vira-bosta mudou de vida
Maitacas se instalaram no alto dos galhos
No interior
o Brasil continua desconfiado
A serra morde as carretas
Povo puxa bendito
pra vir chuva
Nas estradas vazias
cruzes sem nome marcam casos de morte
As vinganças continuam
Famílias se entredevoram nas tocaias
Nas bandas do cemitério
Cachorro magro sem dono uiva sozinho
De vez em quando
a mula-sem cabeça sobe a serra
ver o Brasil como vai
BOPP, Raul. Cobra Norato e Outros Poemas. Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1988. p.105-106
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