sábado, 30 de novembro de 2013

IRACEMA: UMA TRANSA AMAZÔNICA

Considerado um clássico do cinema documental, dirigido por Jorge Bodanzky e Orlando Senna. Filme importante para se compreender o que veio sobre o dorso da farsa do progresso da Amazônia com a implantação da Transamazônica. O filme é de 1976, mas foi proibido pelos militares, sendo lançado oficialmente apenas em 1981.


Já no final do filme há esse diálogo entre Iracema e Tião Brasil Grande, os dois protagonistas.

– E pra onde tu tá indo agora?
– Pro Acre.
– Pro Acre? Num vai, não. Fica comigo.
– Lá no Acre agora tem mais futuro do que aqui.
– Fica comigo.
– Do outro lado do Brasil tem outro mar, não é o Oceano Atlântico, é o Pacífico. Fica lá no Acre. O Acre é o caminho para o outro oceano, o Oceano Pacífico. Dizem até que o Governo vai mandar construir um porto lá. Pra atracar navio e tudo, que nem o Porto de Santos, no Rio de Janeiro.

“A história narrada em estilo semidocumental segue a trajetória de um caminhoneiro e uma prostituta, que viajam juntos pela Rodovia Transamazônica recém-construída. O caminhoneiro, apelidado de Tião "Brasil Grande", fala sempre da sua confiança no progresso do Brasil e de quão bem a construção da rodovia em plena floresta ajudará a isso acontecer. Seu caminhão tem o famoso adesivo "Brasil, ame-o ou deixe-o" (popularizado pelo regime militar da época) no parabrisa e no parachoque está escrito "Do destino ninguém foge".
Contrastando com esse otimismo, aparecem as paisagens do desmatamento, queimadas e devastação da floresta pela janela do caminhão. As pessoas com quem Tião conversa reclamam dos grileiros que tomam as terras dos pobres. Tião diz que o povo é ignorante, que compra terras sem pedir a documentação. Para outros ele diz que a rodovia do governo é boa, mas os caminhoneiros dizem que muitas vezes eles próprios tem que construirem as estradas para chegarem até onde a madeira se encontra para as transportarem. Enquanto isso, Iracema segue o que ela acha ser a sua sina: vagar sem destino, acompanhando os caminhoneiros em suas viagens. Ao ser levada para uma fazenda no interior da mata, ela presencia uma negociação de mão-de-obra envolvendo um sitiante e um agenciador. O sitiante começa dizendo que não quer problemas, que deseja tudo legalizado. Mas logo mostra a precariedade do emprego ao negociar o preço da comissão cobrada pelo agente: reclama que está caro, que a maioria dos homens que ele contrata fugirão logo ou morrerão de malária. Já o agenciador diz que o trabalhadores que transporta são todos ignorantes, que nem sabe onde estão. "Pensam que aqui é Mato Grosso", afirma ele.”

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