Matias Aires (1705-1763)
O amor não se pode definir; e talvez que esta
seja a sua melhor definição. Sendo em nós limitado o modo de explicar, é
infinito o modo de sentir; por isso nem tudo o que se sabe sentir, se sabe
dizer: o gosto e a dor não se podem reduzir a palavras. O amor não só tem ocupado
e há de ocupar o coração dos homens, mas também os seus discursos; porém por
mais que a imaginação se esforce, tudo o que produzir a respeito do amor, são
átomos. Os que amam não têm livre o espírito para dizerem o que sentem; e
sempre acham que o que sentem é muito mais do que o que dizem; o mesmo amor
entorpece a ideia, e lhes serve de embaraço: os que não amam, mal podem
discorrer sobre uma impressão que ignoram; os que amaram, são como a cinza fria,
donde só se reconhece o efeito da chama, e não a sua natureza; ou também como o
cometa que, depois de girar a esfera, sem deixar vestígio algum, desaparece.
AIRES, Matias. Reflexões sobre a vaidade dos homens. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1953. p.107
* Imagem: detalhe da escultura O beijo (1889), de Rodin.
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