quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

A POESIA DE MAZE OLIVER

Maze Oliver é natural de Rio Branco-AC. Pedagoga formada pela Universidade Federal do Acre, especialista em educação, com pós-graduação em Ensino Infantil e Fundamental, aposentou-se como professora, depois de uma vida inteira dedicada à educação. Ao longo dos anos, Maze tem marcado presença no cenário cultural do Acre. No cinema acreano, dirigiu os documentários “História Musical do Grupo Capu”, em que conta a história do primeiro grupo de rock do Acre, filme vencedor, na categoria documentário, do V Festival Acreano de Vídeo (2003); e “História do Cinema Acreano”. Ainda atuou e roteirizou o filme “Menina Mãe” (1997), também premiado. Estreou na literatura em 2015, com o livro “Devaneios”; em seguida, para o público infantil, publicou “A Poção Mágica” (2016); e tem outros trabalhos no prelo, a aguardar publicação. Juntamente com outros artistas, em 2016, fundou a Sociedade Literária Acreana – SLA, a qual preside, grupo que tem como missão apoiar e realizar iniciativas literárias voltadas para o desenvolvimento artístico e cultural do Acre, incentivando e apoiando novos autores. Entre outras atividades, a SLA tem-se feito presente, na sociedade e nas escolas, por meio dos saraus literários, onde Maze também apresenta a sua performance de bruxa, baseada em seu livro A Poção Mágica


Para adquirir os livros de Maze Oliver:
Blog da autora:


FALSA REPÚBLICA
Maze Oliver

Quem dá mais? Onde vendo?
Homens de paletó, vidas gordas, vidas caras!
Na feira do voto, feira do silêncio...
Vou seguir minha sina... Diz a menina.
Homem da boca, rei dos becos
Vidas curtas... Custa quanto?
A vida? O sorriso?
Correm os ratos. É a guerra!
Troca a faixa do príncipe!
Agora o novo rei do beco.
Enquanto alguns poetas contam sílabas,
Alguns cantores cantam o sexo...
Outros fecham os olhos, fingem...
Hipócritas, dormentes! Perdidos!
Feira de vidas, escravos da gravata, do nó, do pó...
Enquanto a grande prostituta no cio
(A falsa república)
Ceifa vidas, abafa dores e gritos.


MEDO DA MORTE
Maze Oliver

A morte não me dá medo
É o fim do amor platônico
Final de uma história de amor,
Do ser com o seu tempo.

A morte não me dá medo
Eu com a minha morte,
Tal encontro impossível.
Quando ela for existir,
Não mais estarei aqui.

A morte não me dá medo,
Creio estar num sono profundo
Num quase sono eterno,
Muito longe deste mundo.

Se a morte chegar a mim,
Dela só tenho UM medo
O medo de desistir,
Do medo, de não ter medo.


ACRE
Maze Oliver 

Nasci no Acre
Terra de índio e de índia,
Sou meio índia, pele de sol,
Sangue forte.
Da minha gente tenho orgulho,
Sou do norte.
Sou cabocla da floresta
O chão do Acre beijei.
Sou mulher quase índia,
Eu sei.
Nos mistérios da mata,
No calor do Acre, me gerei
No aceiro da mata me criei.
Acre que dizem fraco, ledo engano...
Ele é rico e soberano,
Pena que sua riqueza
Esvai-se nas mãos de porcos.


QUERO UM FERIADO
Maze Oliver

Ah, quem dera um feriado!
Aplaudir a TV
Tomar banho na lama do rio,
Tomar banho de chuva,
Ah, quem dera um feriado!
Beijar a amada
Ir ao cinema,
Ver os amigos, viver!
Repartição, lugar de ninguém
Quero um feriado!
Esbaldar na cachaça,
Ouvir música sertaneja,
Chorar as mágoas a sangrar...
Gastar os últimos centavos,
Do mísero salário
E zumbis, voltar à senzala.
Na segunda-feira: Sim senhor, não senhor!
Ah, um feriado!


ESCRAVOS
Maze Oliver

Somos escravos do poder
Da moeda e do capital,
Sem tempo para pensar;
Sem tempo para viver.
Negro ou branco,
Não importa!
Todos estão à mercê
De um papel moeda qualquer!
Cego é, quem não quer ver.


SONETO DA POESIA (Mundo Poético)
Maze Oliver

Não só por hoje, quero viver de emoção,
Poetizar, esquecer dores da vida           
Limpar, cicatrizar, acalmar a ferida,
Cantar, e acalentar o meu coração.

Não só por hoje, quero viver poesia,
Também exorcizar a dor da lida,
Rimar em verso a dor mais escondida,
Cercar, prender, domar a rebeldia.

Faço isso para esquecer o passado
Quero sim, cantar em verso a vida,
Renascer num viver apaixonado.

Jogar pro ar sentimentos dispersos
Sobreviver só, num mundo encantado,
Na realidade do mundo dos meus versos.


ESPELHO MEU
Maze Oliver

Onde fostes, juventude?
A tez, a pele de veludo?
As curvas sinuosas,
A boca provocante?
O lindo sorriso, quase miss,
Quase princesa, quase tudo?

No túnel da vida... Tudo muda
O tempo levou as curvas,
O relógio trouxe as rugas,
E os cabelos embranqueceram.

Mas, atributos permanecem
Pois a mulher se faz poema,
Maquiada em fantasia,
Adornada em belas rimas,
Eternizada em poesia.


O TEMPO
Maze Oliver

O tempo passa,
Refazendo caminhos,
Limpando trilhas,
Buscando horizontes,
Fazendo as malas,
Recuperando traumas,
Cicatrizando feridas,
Ampliando amizades,
Ceifando dores,
Apreciando arte,
Atravessando pontes.
É a vida que passa,
Com o passar do tempo.


BARGANHA
Maze Oliver

Tu que NÃO és político,
Mas dissimula e engana,
Vende e troca tua honra
Por títulos, troféus ou vinténs.
O que tens para ensinar?
E ousas cobrar de alguém!

Onde foram parar teus valores
Nessa sociedade nefasta?
Que troca dignidade por grana,
Teu conhecimento barganha
Contagiando até crianças,
Muitas vezes por vaidade ou façanha.

Só isso, homem, te basta?
Onde foi parar tua paixão?
O que te fez esquecer a emoção?


MULHER
Maze Oliver

Mulher respeita-te! O que és?
Corpo?! Não. És muito mais!
Além de cara, bunda e peitos,
Sentes, pensas, és alma. És mais!        

Não deixe que te façam vender
Carne de açougue, sem emoção.
Isso compra-se no mercado,
Produto de oferta, promoção.

Tens reflexão, inteligência,
Deus te fez dotada de razão.
Não dê coroa, a quem te usa!
Usufrui do teu reinado:
És dama, princesa, és musa!

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