Filosofia de todo dia
O termo “paradigma”
se tornou um desses muito usados e mal compreendidos.
Há um emprego
genérico para significar mudança no modo de ver ou entender algo, quase sempre
com uma conotação de transgredir uma situação e adotar outra digamos, mais
apropriada ou mesmo revolucionária. Inclusive por detrás desses usos há certa
inclinação a considerar a mudança de paradigma como algo necessário até mesmo
benéfico.
Nada contra essa
concepção. Mas propriamente dito, o conceito é muito mais específico. Refiro-me
a Thomas Kuhn e sua obra “A Estrutura da Revoluções Científicas” publicada no
longínquo ano de 1962, fruto de monografia quando estudante de Física em
Harvard.
O primeiro mito que
Kuhn derruba é o de que as ciências naturais (Física e Química) retratam a
realidade mesma dos fatos, que suas teorias são comprovadas e que por isso sua
verdade é inquestionável.
Se assim fosse, a
ciência não progrediria, as atuais teorias seriam definitivas. Mas como foi
possível que antes outras teorias fossem consideradas como comprovadas e mais
tarde questionadas?
Então não seriam
teorias científicas e sim mitos?
Para solucionar
esses impasses, T. Kuhn considera que as ciências naturais não acumulam
verdades, elas fornecem modelos, paradigmas aceitos e praticados por uma
comunidade de cientistas. Os paradigmas funcionam regularmente por fornecerem
diretrizes metodológicas que conduzem a contento as experimentações e com as
quais se chega a resultados. Praticar a ciência é propor questões, solucionar
problemas, usar os meios apropriados (laboratórios, pesquisas, artigos
científicos, conjunto de leis e teorias) para chegar a resultados. Esse corpo
de estudos e de práticas, forma o paradigma e quando ele é bem sucedido, a
ciência progride rapidamente, pois o paradigma enseja coletar ainda mais fatos
por meio das experiências, inclusive inventar instrumentos, aparelhos, e
permite precisar cálculos.
Ora, quanto mais
aprofundadas essas pesquisas maior a probabilidade de encontrar “furos”, o que
pode levar a dúvidas, e ou o paradigma aceito e praticado soluciona o problema,
ou ele se torna mais difícil e pode levar a rompimento com as regras que
norteavam o paradigma aceito.
Kuhn chama a esse
problemas de anomalias, pois fogem às exigências teóricas do paradigma que
vinha sendo praticado.
As mudanças de
paradigma são as revoluções científicas. Assim, por exemplo, a teoria da
relatividade revolucionou a Física e a anterior concepção de Newton sofreu
abalos.
Como se vê, os
paradigmas podem mudar, o que não significa que devam mudar. E quando mudam,
muda a imagem de mundo, muda todo um quadro teórico e prático de referências.
Então não posso
confiar na atual teoria porque ela poderá mudar?
Claro que não, se a
pesquisa dá resultados confiáveis, ela vale. Mas não é simplesmente verdadeira,
definitiva ou absoluta.
Conclusão: se você considera que pode apoiar suas ideias e crenças em
teorias científicas, saiba que é próprio da ciência mudar de modelo. Já ideias,
crenças, fundamentos religiosos, éticos ou filosóficos não são regidos por
paradigmas. Não busque respostas para o sentido da existência do homem ou do
cosmo na ciência.
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