Filosofia de todo dia
Não há ser sem a
palavra, mas a palavra não tem ser. Se considerarmos os sons ou fonemas
emitidos, é somente desse modo que as palavras teriam ser, quer dizer,
gravadores podem captar esses sons emitidos, mas gravadores não captam o que se
quer dizer...
Para chegarmos às
coisas e situações de qualquer natureza, precisamos emitir sons, ou significar
o sentido que queremos dar às coisas. Confunde-se o nome com a coisa nomeada, e
isso devido à adesão entre o nome "rosa", por exemplo, e à flor no jardim.
Esse nome ou significante, nasceu da cultura, da língua herdada e convencional
que falantes do português, ou de qualquer outra língua, aprenderam.
Se apontarmos para
uma rosa e dissermos, "inseto", nosso interlocutor procuraria, para
evitar a hipótese de o falante não saber o que diz, uma razão para apontar à
rosa e dizer "inseto". Uma abelha pousou na rosa, digamos.
Isso mostra que
aprender uma língua é relacionar sons, palavras, frases à realidade, aos
objetos, às coisas como se apresentam e mesmo como poderiam se apresentar. E
mais. É compreender nossa situação no mundo, como lidamos, como nos havemos uns
com os outros e com nossas circunstâncias.
Tudo o que existe,
nós humanos inclusive, poderia subsistir sem a presença humana, sem a
linguagem. Problema: não há como saber que mundo seria esse. Para significar
essa própria possibilidade, precisamos da linguagem. A palavra tem poder, mas
ela não cria, não produz seres, coisas, artefatos. Entretanto, a palavra produz
efeitos, como dissuadir, convencer, mentir, elogiar, ordenar, intimidar, e
muitos outros jogos de linguagem, como explicou Wittgenstein. Inclusive o
silêncio pode ser mais significativo do que expressar o pensamento.
Atenção,
"expressar o pensamento" não deve ser entendido como se tivéssemos
tudo pronto em nossa mente, e as palavras apenas servissem para expressá-lo. Só
podemos pensar (o que inclui, analisar, entender, supor, argumentar, etc.,
etc.) por meio da linguagem.
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