Que fizestes vós, gidistas,
intelectualistas,
rilkistas,
misterizantes,
falsos bruxos
existenciais,
papoulas
surrealistas acesas
numa tumba,
europeizados
cadáveres da moda,
pálidas lombrigas
do queijo
capitalista, que
fizestes
ante o reinado da
angústia,
frente a este
escuro ser humano,
a esta pateada
compostura,
a esta cabeça
submersa
no esterco, a esta
essência
de ásperas vidas
pisoteadas?
Não fizestes nada
além da fuga:
vendestes
amontoados detritos,
buscastes cabelos
celestes,
pés covardes, unhas
quebradas,
“beleza pura”,
“sortilégio”,
obra de pobres
assustados
para evadir os
olhos, para
emaranhar as
delicadas
pupilas, para
subsistir
com o prato de
restos sujos
que lhes lançaram
os senhores,
sem ver a pedra em
agonia,
sem defender, sem
conquistar,
mais cegos que as
coroas
do cemitério,
quando cai
a chuva sobre as
imóveis
flores podres das
sepulturas.
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