Rogel Samuel
Para muita gente, o Brasil ainda está em uma
situação difícil, em crise, ameaçado pela inflação.
Até gente muito ilustre, como um grande
maestro nacional, hoje na Europa, que disse no seu blog que o país era
“bonitinho, mas ordinário”. Escrevi um comentário meio desaforado na postagem,
mas ele não (claro) aprovou.
Um dos problemas brasileiros é a falta de
auto-estima, de orgulho, de patriotismo.
“Às vezes tenho a impressão de que o Brasil é
um homem rico, bonito e forte, na flor da idade, que porém não sabe
falar, não sabe se expressar com consciência. Bonitinho mas ordinário”, disse o
maestro.
O que se vê é o preconceito: “ Pelo
contrário, meus interlocutores começam sempre com um “Oh!” de admiração por um
país pujante, cujas taxas de crescimento fazem babar de inveja os europeus, e
cujos presidentes, seja um operário transformado em estadista “cult” ou uma
Margareth Tatcher da esquerda, são objetos de desejo de quem está acostumado
com Berlusconis e que tais”.
Ou quando diz: “Certamente não teremos do que
nos orgulhar se no futuro formos os campeões mundiais de consumo de geladeiras,
ou o celeiro de deputados como Tiririca, representando nossa população em
comissões de educação”.
O que acho é que as Universidades brasileiras
foram muito prejudicadas, inclusive a UFRJ, onde trabalho e de onde me
aposentei, não por falta de investimento apenas, mas porque os seus
pesquisadores saem do país (como é o caso do maestro), abandonam seus projetos
por falta de incentivos. Na época do regime militar, há pouco tempo, foram
arrasadas. Não acredito nessa lista das 100 “melhores” universidades onde não
estamos. Quantas são públicas e gratuitas? Não concordo com o maestro neste
ponto, foi arrogante e pouco patriótico. Ele mesmo sabe das dificuldades de
lidar com os péssimos políticos da elite paulista. O Brasil não é a China (uma
ditadura), nem a Índia (um país de grande complexidade política). O Brasil é a
segunda maior Democracia do Ocidente, tem uma elite corrupta e atrasada, uma
grande imprensa péssima, mas esperem para ver o que este país pode fazer. Não
se pode ler o Brasil pela Globo, pela Folha, etc. O Brasil não é nem bonitinho
nem ordinário. Temos uma tradição cultural de que podemos nos orgulhar. Mais do
que carnaval e samba, temos uma cultura que vem desde o Barroco etc. A
ignorância é de desconhecer isso.
Até os generais da “revolução” tinha isso de
bom. Tinham patriotismo. Coisa que os americanos têm, o culto pela bandeira.
Recentemente postei um livro no meu blog
LIVROS ONLINE. Um livro antigo. Fora de moda.
Ridículo? Pode ser. Mas leia essas linhas e o
sinta: “Consiste a minha primordial ambição em vos dar exemplos e conselhos que
vos façam úteis à vossa família, à vossa nação e à vossa espécie, tornando-vos
fortes, bons, felizes. Se de meus ensinamentos colherdes algum fruto,
descansarei satisfeito de haver cumprido a minha missão.
“Entre esses ensinamentos, avulta o do
patriotismo. Quero que consagreis sempre ilimitado amor à região onde
nascestes, servindo-a com dedicação absoluta, destinando-lhe o melhor da vossa
inteligência, os primores do vosso sentimento, o mais fecundo da vossa
atividade — dispostos a quaisquer sacrifícios por ela, inclusive o da vida.
“Embora padeçais por causa da Pátria, cumpre
que lhe voteis alto, firme, desinteressado afeto, o qual, longe de esmorecer, —
aumente, quando desconhecido, injustamente aquilatado, ou ingratamente
retribuído, e, jamais, em circunstância nenhuma, vacile, descreia, ou se
entibie.
“Consiste a minha primordial ambição em vos
dar exemplos e conselhos que vos façam úteis à vossa família, à vossa nação e à
vossa espécie, tornando-vos fortes, bons, felizes. Se de meus ensinamentos
colherdes algum fruto, descançarei satisfeito de haver cumprido a minha
missão”.
Assim disse o Conde de Afonso Celso.
O livro termina assim: “É verdade que a
grandeza não deriva da simples posse de dons valiosos, mas do seu sábio
aproveitamento. Porque, porém, deixaremos de pôr em ação os nossos prodigiosos
recursos? Quando não o quiséssemos, seríamos forçados a isso pela ordem natural
das cousas, à lei infalível do desenvolvimento das forças e das necessidades.
Viveremos, cresceremos, prosperaremos. A educação, o aperfeiçoamento, hão de
vir. Somos ainda uma aurora. Chegaremos necessariamente ao brilho e ao calor do
meio dia. Ao terminar o século XIX, já constituímos a 2a. potência do Novo
Mundo, a 1a. da América do Sul, a 1a. em extensão e a 3a. em população da raça
latina. Seremos a 2ª. ou a 1ª. do orbe, quando a hegemonia se deslocar da
Europa para a América, o que fatalmente sucederá. Encarnaremos então as
qualidades, guardaremos as tradições, representaremos os serviços dos latinos
no trabalho universal. Se tais qualidades, tradições e serviços são eminentes
(e quem ousará negá-lo?) eminente será a nossa missão. Não temos o direito de
desanimar nunca. Assiste-nos o dever de confiar sempre. Desanimar no Brasil
equivale a uma injustiça, a uma ingratidão; é um crime. Cumpre que a esperança
se torne entre nós, não uma virtude, mas estrita obrigação cívica. Desanimar,
porque? quando nada nos falta que não possamos conseguir? Penosíssima embora a
situação atual, é incomparavelmente mais auspiciosa que a da Grécia, a da
Itália, a de Portugal, a da França mesmo. Quão menos grave que a dos Estados
europeus! Neste, a população emigra; naquele decresce cada dia. Vive condenada
em todos a não largar as armas, minada pela miséria, dividida por ódios
implacáveis, explorada pelo argentarismo, ameaçada pelos anarquistas. Apesar de
tudo, lá não desanimam. Havemos nós de desanimar?! Petrópolis, 8 de Setembro de
1900”.
> Rogel Samuel é poeta e escritor nascido no Amazonas. É professor aposentado da UFRJ. Autor, entre outros, de: Manual de Teoria Literária; O Amante das Amazonas; e Teatro Amazonas.
Um comentário:
Leio seu blog todos os dias...
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