Rogel Samuel
Sob vários aspectos, ele é o maior romancista
da Amazônia. Não é muito lido, conhecido, porque autor difícil, sofisticado.
Sua morte, no dia 7 de abril do ano passado (2004), abre questão grave quanto à
divulgação da cultura nacional brasileira. Sua morte não chamou atenção. Não se
soube. Eu mesmo, amazonense de Manaus, onde morava o escritor, não tive
conhecimento.
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Vim a ouvir da boca de um chofer de táxi, em
Manaus, no dia 18 de junho. Dizia-me ele: - ...Por ali, na rua onde morava
aquele desembargador, que morreu no ano passado... A rua, cujo nome não me
ocorre, fica ao lado do Igarapé. A casa, em frente ao igarapé, exibe a vocação
de Paulo Jacob. Em Manaus, mas sempre voltado para a Floresta. Que ele conheceu
bem, pois foi juiz em Canutama, no rio Purus, em 1952, e durante 10 anos viajou
pelo Amazonas. Até que, nos anos 60, foi promovido a desembargador do Tribunal
de Justiça.
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Paulo Jacob escreveu muito. Muito. Cerca de
10 romances bem trabalhados. Quase ganhou o maior prêmio nacional de literatura
da sua época, o Walmap, em 1969, com «Dos ditos passados nos acercados do
Cassianã», 2º lugar. Excelente livro, imenso, denso, 359 páginas de um tipo
pequeno, corpo 10 (Rio de Janeiro, Bloch, 1969). O Walmap tinha juízes como
Jorge Amado, Guimarães Rosa e Antônio Olinto. Os três deram o 4º lugar para
«Chuva branca», em 1967, um dos seus mais belos livros. Outro livro, «Vila rica
das queimadas», título bem atual, ecológico, também ficou entre os finalistas
do Walmap. O título denuncia, como o livro: «O coração da mata, dos rios, dos
igarapés e dos igapós morrendo», sobre o desmatamento. «Chãos de Maíconã»
também «menção honrosa» do Concurso Walmap.
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Festejado foi pela crítica, Paulo Jacob.
Leila Miccolis o considera «o Guimarães Rosa da Amazônia». Guimarães Rosa ficou
entusiasmado com «Chuva branca». Aguinaldo Silva diz que ele fez «o primeiro
grande romance da Amazônia». Assis Brasil compara «Chuva branca» a «Sagarana»
de Rosa e a «The wild palms» de Willian Faulkner.
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Ler Paulo Jacob é dificuldade. Chega que ele,
em «Chãos de Maíconã», anexou um vocabulário da língua ianomami, no fim do
livro. De um «Dicionário da língua popular da Amazônia» também ele é autor
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Paulo Jacob nasceu em 24 de fevereiro de 1921
e faleceu no dia 7 de abril de 2004. Escreveu ainda: Muralha verde (1964), Andirá
(1965), Estirão de mundo (1979), A noite cobria o rio caminhando (1983), O gaiola tirante rumo do rio da borracha
(1987), além dos citados acima.
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Em «Chuva branca», o personagem vai-se
adentrando, vai-se assimilando na floresta, vai-se afastando da civilização,
até que no fim parece que nem existiu – vira mito. No fim, na morte, ele tira a
roupa, fica nu, perdido na mata, integrado nela, sabendo que vai morrer,
perdido e integrado, no mitificado.
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«O gaiola tirante rumo do rio da borracha»
narra a viagem de um navio, um gaiola, um barco a vapor, saindo de Belém até o
outro lado da Amazônia, no rio Purus até subir o rio Iaco, onde o navio
naufragou e ali se soube que o preço da borracha despencara, de quinze mil réis
caiu para oito, pondo na falência todos os coronéis. O personagem é o
Comandante Antonio Damasceno.
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Paulo Jacob foi
professor universitário e Presidente do Tribunal de Justiça. Como Presidente de
tribunal chegou a assumir o Governo do estado, em 1982. Sua morte deixa aberta
a vaga de melhor romancista da região Norte.
> Rogel Samuel é poeta, escritor,
doutor em letras, professor aposentado da Universidade Federal do Rio de
Janeiro. É autor de Crítica da Escrita, 1979; Manual de Teoria Literária,
Editora Vozes, 14 edições; Literatura Básica, Editora Vozes, em 3 volumes,
1985; O que é Teolit?, Editora Marco Zero, 1986; 120 Poemas, 1991; Novo Manual
de Teoria Literária, Editora Vozes, 6ª. Edição, 2011; O amante das amazonas,
Editora Itatiaia 2a edição, 2005; Fios de luz, aromas vivos, Fortaleza,
Expressão Gráfica Editora, 2012; Teatro Amazonas, Edua, Manaus, 2012. Sócio
Correspondente da Academia Amazonense de Letras.
Um comentário:
PAULO JACOB MERECE UMA REEDIÇÃO DE SUAS OBRAS
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