sábado, 28 de dezembro de 2013

PAULO JACOB

Rogel Samuel


Sob vários aspectos, ele é o maior romancista da Amazônia. Não é muito lido, conhecido, porque autor difícil, sofisticado. Sua morte, no dia 7 de abril do ano passado (2004), abre questão grave quanto à divulgação da cultura nacional brasileira. Sua morte não chamou atenção. Não se soube. Eu mesmo, amazonense de Manaus, onde morava o escritor, não tive conhecimento.
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Vim a ouvir da boca de um chofer de táxi, em Manaus, no dia 18 de junho. Dizia-me ele: - ...Por ali, na rua onde morava aquele desembargador, que morreu no ano passado... A rua, cujo nome não me ocorre, fica ao lado do Igarapé. A casa, em frente ao igarapé, exibe a vocação de Paulo Jacob. Em Manaus, mas sempre voltado para a Floresta. Que ele conheceu bem, pois foi juiz em Canutama, no rio Purus, em 1952, e durante 10 anos viajou pelo Amazonas. Até que, nos anos 60, foi promovido a desembargador do Tribunal de Justiça.
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Paulo Jacob escreveu muito. Muito. Cerca de 10 romances bem trabalhados. Quase ganhou o maior prêmio nacional de literatura da sua época, o Walmap, em 1969, com «Dos ditos passados nos acercados do Cassianã», 2º lugar. Excelente livro, imenso, denso, 359 páginas de um tipo pequeno, corpo 10 (Rio de Janeiro, Bloch, 1969). O Walmap tinha juízes como Jorge Amado, Guimarães Rosa e Antônio Olinto. Os três deram o 4º lugar para «Chuva branca», em 1967, um dos seus mais belos livros. Outro livro, «Vila rica das queimadas», título bem atual, ecológico, também ficou entre os finalistas do Walmap. O título denuncia, como o livro: «O coração da mata, dos rios, dos igarapés e dos igapós morrendo», sobre o desmatamento. «Chãos de Maíconã» também «menção honrosa» do Concurso Walmap.
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Festejado foi pela crítica, Paulo Jacob. Leila Miccolis o considera «o Guimarães Rosa da Amazônia». Guimarães Rosa ficou entusiasmado com «Chuva branca». Aguinaldo Silva diz que ele fez «o primeiro grande romance da Amazônia». Assis Brasil compara «Chuva branca» a «Sagarana» de Rosa e a «The wild palms» de Willian Faulkner.
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Ler Paulo Jacob é dificuldade. Chega que ele, em «Chãos de Maíconã», anexou um vocabulário da língua ianomami, no fim do livro. De um «Dicionário da língua popular da Amazônia» também ele é autor
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Paulo Jacob nasceu em 24 de fevereiro de 1921 e faleceu no dia 7 de abril de 2004. Escreveu ainda: Muralha verde (1964), Andirá (1965), Estirão de mundo (1979), A noite cobria o rio caminhando (1983), O gaiola tirante rumo do rio da borracha (1987), além dos citados acima.
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Em «Chuva branca», o personagem vai-se adentrando, vai-se assimilando na floresta, vai-se afastando da civilização, até que no fim parece que nem existiu – vira mito. No fim, na morte, ele tira a roupa, fica nu, perdido na mata, integrado nela, sabendo que vai morrer, perdido e integrado, no mitificado.
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«O gaiola tirante rumo do rio da borracha» narra a viagem de um navio, um gaiola, um barco a vapor, saindo de Belém até o outro lado da Amazônia, no rio Purus até subir o rio Iaco, onde o navio naufragou e ali se soube que o preço da borracha despencara, de quinze mil réis caiu para oito, pondo na falência todos os coronéis. O personagem é o Comandante Antonio Damasceno.
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Paulo Jacob foi professor universitário e Presidente do Tribunal de Justiça. Como Presidente de tribunal chegou a assumir o Governo do estado, em 1982. Sua morte deixa aberta a vaga de melhor romancista da região Norte.


> Rogel Samuel é poeta, escritor, doutor em letras, professor aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É autor de Crítica da Escrita, 1979; Manual de Teoria Literária, Editora Vozes, 14 edições; Literatura Básica, Editora Vozes, em 3 volumes, 1985; O que é Teolit?, Editora Marco Zero, 1986; 120 Poemas, 1991; Novo Manual de Teoria Literária, Editora Vozes, 6ª. Edição, 2011; O amante das amazonas, Editora Itatiaia 2a edição, 2005; Fios de luz, aromas vivos, Fortaleza, Expressão Gráfica Editora, 2012; Teatro Amazonas, Edua, Manaus, 2012. Sócio Correspondente da Academia Amazonense de Letras.

Um comentário:

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

PAULO JACOB MERECE UMA REEDIÇÃO DE SUAS OBRAS