João Guimarães Rosa
O trem estacou, na manhã
fria,
num lugar deserto, sem casa
de estação:
a parada do Leprosário...
Um homem saltou, sem
despedidas,
deixou o baú à beira da
linha,
e foi andando. Ninguém lhe
acenou...
Todos os passageiros olharam
ao redor,
com medo de que o homem que
saltara
tivesse viajado ao lado
deles...
Gravado no dorso do bauzinho
humilde,
não havia nome ou etiqueta
de hotel:
só uma estampa de Nossa
Senhora do Perpétuo Socorro...
O trem se pôs logo em marcha
apressada,
e no apito rouco da
locomotiva
gritava o impudor de uma
nota de alívio...
Eu quis chamar o homem, para
lhe dar um sorriso,
mas ele ia já longe, sem se
voltar nunca,
como quem não tem frente, como quem só tem costas...
ROSA, João Guimarães. Magma. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. p.68-69
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