Inês Lacerda Araújo
Deixando de lado vantagens e recursos que o
Brasil tem (esperemos que não se esgotem, que sejam respeitados e cultivados
com cuidado e responsabilidade), ao que parece nos encontramos como que
emparedados por dificuldades.
Explico: o desemprego se situa em nível
abaixo da média, porém o descontentamento está muito acima da média. Razões não
faltam, recomeço da inflação, corrupção na política, ceticismo com relação à classe
dirigente, sofrimento de grande parte da população com violência (no trânsito,
nas estradas, nas ruas, ao chegar em sua própria casa!), prisões abarrotadas
sem solução à vista, uma presidente (a) autoritária que ao mesmo tempo depende
de seu tutor e mentor, deputados que só pensam na próxima eleição. E
recentemente, o temor de sair para protestar e ser ferido ou morto por idiotas
mascarados, que, agora sabemos, são paus mandados. A morte do cinegrafista
Santiago custou R$ 300,00, somadas as quantias pagas aos dois rapazes!
Considerar que queimar bancos e lojas de
automóveis acabará com o capitalismo é ignorância, irresponsabilidade e reles
imitação de outros movimentos semelhantes que nada conseguiram, a não ser
disseminar medo.
Vejamos, historicamente e socialmente falando, algumas questões sobre o
capitalismo.
Empresas e indústrias surgiram do nada com o
objetivo de semear desigualdade, injustiça, fome, pobreza?
Multinacionais norte-americanas e europeias
são intrinsecamente más e prejudiciais à humanidade?
Há que se abolir todos os bancos, bancos
oficiais inclusive, como o Banco do Brasil? E também empresas como a Petrobras?
Ao tempo dos reinados e impérios, desde os
egípcios até Napoleão, o reino britânico, belga, czares russos não havia
exploração e desigualdade, despotismo, miséria? Apenas no capitalismo começou a
luta de classes?
Estas e muitas outras questões não passam pela cabeça fechada pela ideologia
que impregna muitos de nossos herois intelectuais, sociólogos, filósofos,
historiadores, enfim, os chamados intelectuais de esquerda.
Eles ainda querem "tomar o poder"? Pois bem, o PT, comprometido com a
ética na política, com o plano de acabar com miséria, a desigualdade e a
pobreza frutos do capitalismo (mas a favor, como diz o nome do partido, dos
trabalhadores) e inspirado pelo socialismo de vertente cubana, hoje visa
somente poder. O poder político, cargos federais, ministérios, todo o
funcionalismo e as benesses que cargos proporcionam. Nem qualidade e nem o
compromisso com a causa pública são invocados. Só interessa permanecer no
poder. Para isso vale trazer o empresariado que também se beneficiará com
contratos para realizar grandes obras, pelas quais recebem fortunas em troca de
que?
Pouco ou quase nada. Com a máquina pública
deteriorada, nossos dirigentes começam, por debaixo dos panos, a
reconhecer que privatizar é a saída. Claro que sem usar o termo que
outrora demonizaram, "privatizações do PSDB"...
Demonizar o capitalismo, em que pesem seus defeitos e problemas, crises e
desemprego, é descer sobre estudantes e jovens, uma cortina de fumaça,
pegajosa, perigosa, até mesmo covarde.
Aos pseudo herois do momento, Genoíno, Dirceu
e companhia, ao deputado que cerrou o punho levantado, vieram juntar-se
intelectuais. Entre eles, destaque para Caetano Veloso vestindo máscara dos
black blocs. Ele revelou um lado seu, é um mascarado mesmo, no outro sentido do
termo. Uma bela voz em uma cabeça carcomida.
Não esqueçamos: o Brasil é uma democracia, é
preciso fortalecer o regime democrático, especialmente em ano eleitoral.
Escolher os mais dignos, creiam, eles existem.
* INÊS LACERDA ARAÚJO - filósofa, escritora e professora aposentada da UFPR e PUCPR.
Um comentário:
E eu esperando que os mensaleiros devolvam nosso dinheiro. Como sou tolo :-)
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