Astrid Cabral
São Simão elegeu a solidão
como cilício, disciplina
e via de autopurificação.
São Simão cedo recolheu-se
a torre-pombal ou edifício-
coluna em pleno deserto.
São Simão mais de quarenta
anos aí morou sozinho em
rotina de jejum e oração
fazendo hora pra entrar no céu
onde todos os santos estão.
Perdoa-me, Simão, a ousadia
da minha heresia, mas é certo
fugir, como fugiste, do irmão?
Será justo escapar à luta
escolhendo a sina de bicho quieto
na cova que ninguém toca?
Diálogo não é também oração?
Ó Simão, jejuar é tão árduo
quanto ver a dura fome do irmão.
quanto ver a dura fome do irmão.
Ó Simão, viver entre os homens
não será a maior provação?
CABRAL, Astrid. De déu em déu: poemas reunidos (1979/1994). Rio de Janeiro: Sette Letras, 1998.p.126 (poema XXXVI, do livro Rês desgarrada. Título nosso)
CABRAL, Astrid. De déu em déu: poemas reunidos (1979/1994). Rio de Janeiro: Sette Letras, 1998.p.126 (poema XXXVI, do livro Rês desgarrada. Título nosso)
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