NA
FLORESTA
Gibran
Khalil Gibran (1883-1931)
Na
floresta não existe nem rebanho, nem pastor
Quando
o inverno caminha, segue seu distinto curso como faz a primavera
Os
homens nasceram escravos daquele que repudia a submissão
Se
ele um dia se levanta, lhes indica o caminho, com ele caminharão
Dá-me
a flauta e canta!
O
canto é o pasto das mentes
E
o lamento da flauta perdura mais que rebanho e pastor
Na
floresta não existe ignorante ou sábio
Quando
os ramos se agitam, a ninguém reverenciam
O
saber humano é ilusório como a cerração dos campos
que
se esvai quando o sol se levanta no horizonte
Dá-me
a flauta e canta!
O
canto é o melhor saber,
e
o lamento da flauta sobrevive ao cintilar das estrelas
Na
floresta só existe lembrança dos amorosos
Os
que dominaram o mundo e oprimiram e conquistaram,
seus
nomes são como letras dos nomes dos criminosos
Conquistador
entre nós é aquele que sabe amar
Dá-me
a flauta e canta!
E
esquece a injustiça do opressor
Pois
o lírio é uma taça para o orvalho e não para o sangue
Na
floresta não há crítico nem sensor
Se
as gazelas se perturbam quando avistam companheiro,
a
águia não diz: 'Que estranho' Sábio entre nós é aquele que julga
estranho
apenas o que é estranhoAh, dá-me a flauta e canta!
O
canto é a melhor loucura e o lamento da flauta sobrevive aos ponderados e aos
racionais
Na
floresta não existem homens livres ou escravos
Todas
as glórias são vãs como borbulhas na água
Quando
a amendoeira lança suas flores sobre o espinheiro,
não
diz: 'Ele é desprezível e eu sou um grande senhor'
Dá-me
a flauta e canta!
Que
o canto é glória autêntica e o lamento da flauta sobrevive ao nobre e ao vil
Na
floresta não existe fortaleza ou fragilidade
Quando
o leão ruge não dizem: 'Ele é temível'
A
vontade humana é apenas uma sombra que vagueia no espaço
do
pensamento e o direito dos homens fenece como folhas de outono
Dá-me
a flauta e canta!
O
canto é a força do espírito e o lamento da flauta sobrevive ao apagamento dos
sóis
Na
floresta não há morte nem apuros
A
alegria não morre quando se vai a primavera
O
pavor da morte é uma quimera que se insinua no coração
Pois
quem vive uma primavera é como se houvesse vivido séculos
Dá-me
a flauta e canta!
O
canto é o segredo da vida eterna e o lamento da flauta permanecerá após findar-se
a existência.
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