quinta-feira, 29 de novembro de 2012

BRASILEIRO POR OPÇÃO - XXIV

José Augusto de Castro e Costa


O Tratado de Petrópolis, em princípio, constituíra-se na primeira solução de uma contenda diplomática, a qual ainda requereria efetuar outros ajustes em relação ao Acre, que envolviam também o Peru, além da Bolívia.

Tratava-se de desarmonia havida entre os dois países, tendo justamente o Alto-Purus e o Alto-Juruá na pauta das discussões da área acreana, o que levara o Barão do Rio Branco a aprofundar-se nas negociações, objetivando dispositivos harmoniosos que chegassem aos completos entendimentos entre Bolívia, Peru e Brasil. Da Comissão de Limites do Brasil, prestara grande contribuição para solidificar os conhecimentos do Barão do Rio Branco sobre a região litigiosa e a consequente elaboração dos seus fundamentos, ao assinalar que, “...partindo da foz do Purus e percorrendo uma distância de 1.417 milhas ou cerca de 400 léguas, tem-se a prova tangível de que quatro quintos do majestoso rio estão completamente povoados de brasileiros, sem um hiato, sem a menor falha de uma área em abandono, ligados as extremas de todos os seringais -, estirando-se unida por toda aquela lonjura, que lhe define geometricamente a grandeza, uma sociedade rude porventura ainda, mas vigorosa e triunfante”.

Seis anos após a elaboração do documento de Petrópolis, com a data de 08.9.1909 seria finalmente assinado o “Tratado entre o Brasil e o Peru, completando a determinação das fronteiras entre os dois países e estabelecendo princípios gerais sobre o seu comércio e navegação na bacia do Amazonas”.

Estando o Acre, no princípio de 1904, legalmente integrado na Federação brasileira, Plácido de Castro sentindo-se no dever de prestar contas de sua atuação na campanha, ao chanceler Barão do Rio Branco, dirigira-se à capital da República.

No dia 23 de abril, ao aportar o navio ao Cais Pharoux, no Rio de Janeiro, o Caudilho fora recebido e passara a ser alvo de homenagens de todos os ministros de Estado, dos membros das Comissões do Senado e da Câmara Federal, do presidente da Associação Comercial, da imprensa, dos estudantes e do próprio Barão do Rio Branco, por sinal, o primeiro a apertar-lhe as mãos, salientando que sua bravura cimentara os alicerces do Tratado de Petrópolis. Segundo jornais da época, os brados de exaltação a Plácido ressoaram por toda a Praça XV, sem interrupção, à medida em que o cortejo movimentava-se lentamente, sob a ovação popular.

O Território do Acre, após o Tratado de Petrópolis, ficara dividido em três Departamentos administrativos: O Departamento do Alto Acre, o Departamento do Alto Purus e o Departamento do Alto Juruá, criando-se, posteriormente, o Departamento do Tarauacá. Os Departamentos eram administrados por Prefeitos de livre escolha e nomeação do Presidente da República. Suas administrações eram amplas e abrangentes, destacando-se as relacionadas à administração rotineira e a segurança pública. As questões atribuídas à Justiça cível e criminal ficavam ao encargo dos juízes de Direito, juiz de Comarca e ao júri.

Em junho de 1904, Plácido de Castro fora empossado Prefeito do Alto Acre, vindo a ser substituído, posteriormente, em razão de intrigas e disputas políticas com as oligarquias locais, figurando como principais adversários o prefeito substituto, coronel Gabino Bezouro e o delegado de polícia, seu ex-companheiro revolucionário, Alexandrino José da Silva.

Plácido de Castro, depois de viajar ao sul do país, em visita aos seus familiares, adquirira novo ânimo e decidira retornar ao Acre, desta vez, porém, em busca de fortuna.

Por sua própria deliberação integrara-se o Caudilho, na atividade industrial do extrativismo da borracha, na terra que aprendera a amar e a elegera como seu lar.

Contrato de constituição da firma J. Plácido & Cia.,
objeto de acervo pessoal do autor.
O Caudilho adquirira legalmente, a crédito de uma firma de Belém, no valor de cento e vinte contos de réis, pagáveis a longo prazo, o seringal “Capatará”, localizado a algumas milhas acima da “Volta da Empresa”, que passara a denominar-se “Vila Rio Branco”.

Durante uma viagem ao Rio de Janeiro, Plácido tivera por companheiro o escritor Euclides da Cunha, o qual o incentivara a escrever e publicar seus apontamentos sobre a Revolução Acreana.

Aquele escritor tinha a pretensão de ocupar-se dos sucessos que trouxeram o Acre para o Brasil, e Plácido, a título de contribuição, forneceu seus apontamentos que estenderam-se desde junho de 1902, quando achava-se no “Território de Colônias, da Bolívia, demarcando o seringal “Victória”, de José Galdino, até quando publicou a ordem do dia, dissolvendo o Exército acreano, em vista do general brasileiro ter invadido o Acre Meridional e assumido clandestinamente o seu governo, que não estava acéfalo.

Ao retornar, Plácido de Castro encontrara o Acre em ebulição, com as autoridades federais do exército temendo as ideias políticas dos que pleiteavam perante o Congresso Nacional a criação do Estado do Acre. Eram distribuídas sentinelas, postadas nas curvas do rio e na boca dos varadouros. A instabilidade dessas turbulências políticas eram sentidas nos três Departamentos.

O temor de oposição ou de deposição, que em referência aos chefes acreanos manifestavam os prefeitos para ali enviados, constituía uma verdadeira psicose, proveniente talvez de ambiciosos planos acariciados, agravada de certo pela estranheza do ambiente e pelo pavor de adoecer e sabidamente alimentada e usufruída pela corja de intrigantes e exploradores que os seguia ou os cercava.

Confirmando a regra que se vinha estabelecendo, ao assumir a Prefeitura do Alto Acre, o coronel Gabino Bezouro tomara-se de receios da influência política do coronel José Plácido de Castro, que outra coisa não desejava senão, na companhia de seu irmão Genesco Castro, a tranquila exploração de seu seringal Capatará e dos campos de criação de Esperança, mas que se tornara, naturalmente, por sua bravura e lealdade, o intérprete das queixas do povo acreano contra lesivos abusos praticados pelas autoridades arbitrárias, que iam desfrutar o degradado território.

O novo Prefeito fora, assim, fatalmente induzido a hostilizar o libertador do Acre, envolto em intrigas e prevenções, estabelecendo-se logo as primeiras escaramuças.


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* José Augusto de Castro e Costa é cronista e poeta acreano. Mora em Brasília e escreve o Blog FELICIDACRE.

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