Tomo a liberdade de reproduzir abaixo a resposta da
prof.a Luísa Lessa publicado em LINGUAGEM E CULTURA a respeito de meu
texto, “A guerreira gloriosa”, postado dias atrás. Vale como encorajamento e mesmo ensinamento,
sobretudo, para a geração mais nova, da qual faço parte, a geração do
imediatismo e do quanto menor o esforço, melhor. O percurso que a prof.a
Luísa fez, é o que hoje faço, só que por outro caminho, com outros cenários, outros personagens. O caminhar, no entanto, é o mesmo. E penoso permanece caminhar... encolhendo aqui e acolá a barriga para alimentar a cabeça. Tantas
vezes tendo por companhia a solidão, e por confidente, a saudade. É preciso
coragem...
*
Estimado conterrâneo Isaac
Melo,
As tuas palavras tocaram
profundamente o meu coração. Não resisti a tanta emoção e as lágrimas banharam
meu rosto. Mas, felizmente, elas não são de tristeza, pelo contrário, são de
intensa gratidão a ti e à vida que me deu tão bons e fraternos amigos. Encontro
em ti – um brilhante jovem de Tarauacá – a compreensão às minhas palavras
“Memória para a posteridade”. É, de fato, um grito da “Alma Acreana” para outra
alma irmã.
E tu sabes, meu nobre amigo,
que nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de
vencer. Esse sentimento sempre me moveu. A vida exige de nós – o tempo todo –
uma grande capacidade de adaptação, mudanças, enfrentamentos, superação. E
aqueles que temem a mudança nunca vão adiante, levam uma vida estática por medo
de novos desafios decorrentes da nossa existência.
Eu sempre procurei superar
os desafios desde muito jovem. Sai de casa aos seis anos de idade para um
colégio alemão. Agarrava-me às pernas de meu pai para não ir e ele dizia:
“filha, é preciso ir, estudar é a grande saída”. Foi aí que comecei a aprender
a transformar sentimentos menos elevados em prol da grandeza da vida, da
escola, do conhecimento. Compreendi, desde cedo, que o caminho do coração é o
caminho da coragem. Deixar o passado para trás e deixar o futuro SER. Também
aprendi que a vida é perigosa, mas somente os covardes podem evitar o perigo,
mas aí já estão mortos. Somente quem nasceu no seio da Floresta Amazônica –
como eu e tu, dentre tantos outros – sabe o significado dessa palavra CORAGEM.
Ela é interessante, vem da raiz cor, que significa coração. Portanto, ser
corajoso significa viver com o coração. E os fracos, somente os fracos vivem
com a cabeça. Receosos, eles criam em torno deles uma segurança baseada na
lógica. Com medo, fecham todas as janelas e portas – com teologia, conceitos,
palavras, teorias – e do lado de dentro dessas portas e janelas fechadas, eles
se escondem. Nós não nos escondemos. Eu, assim como tu, fomos à luta, ‘caímos
no mundo’, como se diz popularmente.
Por isso, para nós, a
coragem é por em risco o conhecido em favor do desconhecido, o familiar em
favor do estranho, o confortável em favor do desconfortável. É um jogo
arriscado, duro, mas somente os destemidos sabem o que é a vida. Ela não
brinca, não aceita piadas. Ela é “pão, pão, queijo, queijo”. O nós, nesta vida,
estamos, sempre, frente ao desconhecido, não temos ‘bola de cristal’, mas
fazemos por acertar, porque agimos com amor, alma limpa.
Decepções fazem parte da
vida, como disse, não nasci póstuma. Foram as decepções que me ensinaram o
caminho das pedras. Muitos dias tropecei, cai, chorei. N’outros caminhei
tranquila, talvez passando pelas mesmas pedras, mas com os pés fortalecidos
pelos ensinamentos das duras e difíceis caminhadas.
De tudo que vivi e ainda
vivo, eu confesso que por vezes sinto solidão. É nestas horas que eu penso no
‘meu rio Humaitá’, minhas raízes, aí ergo-me na certeza que nunca vou me deixar
abater, não por soberba, mas pela coragem de alguém que bebeu daquelas águas
turvas e, anos mais tarde, caminhou às margens do rio Danúbio, um sonho de
infância.
Aristóteles disse “Eu chamo
de bravo aquele que ultrapassou seus desejos, e não aquele que venceu seus
inimigos; pois a mais dura das vitórias é a vitória sobre si mesmo”.
Finalmente, meu prezado amigo,
para enxugar o meu pranto, neste momento de intensa emoção – vivo, como num
filme, muitas histórias – eu te digo o seguinte: o Amor e a Ternura são
sentimentos revolucionários, eles dão norte a minha vida. Eu amo a família, os
raros amigos, minha sublime profissão. Desta última fiz meus votos de fé. Tem
dado certo.
Obrigada, querido amigo. Que
Deus sempre te ilumine.
Grande abraço,
Luísa
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