Manoel de Barros
I
Não tenho bens de acontecimentos.
O que não sei fazer desconto nas palavras.
Entesouro frases. Por exemplo:
– Imagens são palavras que nos faltaram.
– Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem.
– Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.
Ai frases de pensar!
Pensar é uma pedreira. Estou sendo.
Me acho em petição de lata (frase encontrada
no lixo).
Concluindo: há pessoas que se compõem de
atos, ruídos, retratos.
Outras de palavras.
Poetas e tontos se compõem com palavras.
V
Escrever nem uma coisa
Nem outra –
A fim de dizer todas –
Ou, pelo menos, nenhumas.
Assim,
Ao poeta faz bem
Desexplicar –
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.
VII
O sentido normal das palavras não faz bem ao
poema.
Há que se dar um gosto incasto aos termos.
Haver com eles um relacionamento voluptuoso.
Talvez corrompê-los até a quimera.
Escurecer as relações entre os termos em vez
de aclará-los.
Não existir mais rei nem regências.
Uma certa liberdade
com a luxúria convém. BARROS, Manoel de. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2010. p.263, p.264-265, p.265
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