domingo, 6 de dezembro de 2015

DOIS POEMAS DE JOSÉ DE ANCHIETA BATISTA

SEM RUMO E SEM PORTO
José de Anchieta Batista

Na vaga noite,
Sem rumo,
Eu vago,
E em mim não trago
Qualquer sonhar...

Se eu gritar
Ninguém responde...
Meu ser se esconde
Num endereço
Que não conheço,
Na rua triste
Que não existe...

Na treda noite,
Meu mundo tredo,
E eu com medo
Dos meus zumbis...
Algo me diz
Que estou enfermo,
Mas sigo a ermo...

Na madrugada
Navego o nada,
Num rio morto,
Que não tem margens...
E não tem porto.

Na fria noite,
Um vento frio,
Que vem de um rio
Que vai pro mar...
Chorar? Cantar?
Não adianta,
Tudo é vazio...
Não há mais canto,
Não há mais pranto...
E é falso o rio.
Nesta agonia,
A noite é o dia
Que não findou...
- E eu, quem sou?


MEUS MORTOS
José de Anchieta Batista

Os meus mortos não morreram,
Porque meus mortos não morrem...
Meus mortos seguem comigo,
Mais vivos do que meus vivos...

Caminham no meu caminho,
Choram meus prantos comigo,
Cantam as mesmas cantigas
Que comigo já cantaram...
Meus mortos não morrem nunca,
Vivemos na mesma vida!

Às vezes quero chorar
A saudade inexorável,
Mas descubro de repente
Que meus mortos não morreram,
Que meus mortos estão vivos!


JOSÉ DE ANCHIETA BATISTA poeta e escritor paraibano, com uma vida de dedicação e vivência acreanas. É autor do livro de poesia MENINO DA RUA DO BAGAÇO (Publit, 2009) e do romance CAPOEIRA DAS ÉGUAS (Scortecci, 2014). Escreve aos domingos a coluna Espaço do Anchieta, no jornal Página 20. Edita também o Blog do Anchieta.

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