segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

DOS JORNAIS

Charles Baudelaire (1821-1867)


É impossível percorrer uma gazeta qualquer, seja de que dia for, ou de que mês, ou de que ano, sem nela encontrar, a cada linha, os sinais da perversidade humana mais espantosa, ao mesmo tempo que as gabolices mais surpreendentes de probidade, de bondade, de caridade, e as afirmações mais descaradas a respeito do progresso e da civilização.

Os jornais, sem exceção, da primeira à última linha, não passam dum tecido de horrores. Guerras, crimes, roubos, impudicícias, torturas, crimes dos príncipes, crimes das nações, crimes dos particulares, uma embriaguez de atrocidade universal.

É com esse repugnante aperitivo que o homem civilizado acompanha a sua refeição de cada manhã. Tudo, nesse mundo, transpira o crime: o jornal, a muralha e o semblante do homem.

Não compreendo que uma mão pura possa tocar num jornal sem uma convulsão de repugnância. 


BAUDELAIRE, Charles. Meu coração desnudado. Tradução de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981. p.133

Um comentário:

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

não resisti: reproduzi no meu blog e no ENTRE-TEXTOS