Foto: Eduardo Duarte
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Segundo o filósofo grego Platão, o
filosofar é um ato de contemplação do mundo, pois ao observar-se as coisas e os
fatos tomamos ciência de suas modificações e sentidos. É verdade que
contentar-se com a aparência dos acontecimentos é não conhecer seus elementos
intrínsecos, é acomodar-se na superfície. Diga-se mais: apenas a aparência é a
apresentação do não revelado, do que não foi dito, o qual só através da
convivência se exterioriza.
O Acre é um estado bastante novo,
repleto de esperança. Triunfante de uma luta sangrenta, detentor de “um imortal
e sagrado troféu”, seu destino é o ápice.
Contemplando-se o Acre, observando-se suas coisas e fatos aprendemos suas motivações e sentidos, despertados na densa floresta, de sua gente forte e viril, de seus feitos históricos e seu progresso vivificante.
A verdade, por ser algo substantivo, é o essencial, que compõe a natureza das coisas e dos seres. Só alcança a verdade aquele que consegue ir além da aparência. Neste ponto não se trata de otimistas e pessimistas, conformistas e fatalistas. Chegar à verdade é mergulhar nas águas do mundo, distanciar-se da superfície em busca dos segredos de sua profundeza. Contemplar a realidade é um ato de descoberta e revelação. O cotidiano é o melhor exemplo, pois é rico em ocorrências e questões reveladoras das contradições, valores e aspirações humanas.
Observar o dia-a-dia de uma cidade é como ler um livro. Somos provocados, a todo instante, por ocorrências de todo gênero, expressivas dos interesses, condutas e paixões que dominam o convívio social. O Acre, por certo, está inserido nesse contexto. O cotidiano e a verdade de qualquer ponto do planeta, é o cotidiano e a verdade de qualquer ponto do Acre.
O progresso está presente, também no Acre, a cobrar o seu preço. Vemos nossos antepassados, acreanos de nascimento, quando não de coração, a trazer a satisfação de sua independência, de suas edificações em alvenaria, das primeiras aberturas de estradas, do enquadramento e estabilização de seu funcionalismo, da pavimentação de suas vias públicas, do empreendedorismo estrutural, do assistencialismo social. Tudo, porém, tem seu preço, não raras vezes atrelado a mazelas. O trânsito é um bom exemplo disso: não são poucos os condutores egoístas, a por em risco a vida dos outros, e arrogantes, que usam seus veículos como se fossem armas. As ruas se transformaram em vitrines, com placas, outdoors, anúncios. O comércio tomou de conta de todos os espaços de nossas vidas. A existência é um mercado. Tudo está à venda: comida, automóveis, ilusões. O ser humano, neste mundo onde reina o ter, virou mero consumidor.
A sociedade se transformou numa máquina que devora o corpo e o ser das pessoas.
É nessa dinâmica que vemos o Acre envolto e, por ser ele parte integrante dessa engrenagem, acredita-se vê-lo brevemente apresentando elevados níveis do Índice de Desenvolvimento Humano - IDH, utilizado pela ONU para medir a qualidade de vida de sua população.
É possível contemplar o Acre e acreditar na possibilidade de nele não ver desemprego nas ruas, observar habitações no mínimo em bom estado, não flagrar prostituição infantil, detectar a existência de esgotos sanitários, ver postos de saúde sem filas, admirar a aparência física das pessoas, bem nutridas, bem vestidas e bem cuidadas, não ver mendicância aberta ou disfarçada, notar a existência de escolas limpas e em perfeito funcionamento, tranquilizar-se com o dinamismo do transporte público ordeiro e com a notória segurança pública. Acredite-se nessa possibilidade bilateralmente salutar – para o nosso torrão e para nós!
Acreditar no Acre é ver a expressão no rosto dos transeuntes, a espelhar o ânimo, a presença de um projeto de vida e de uma perspectiva de futuro.
*José Augusto de Castro e Costa é cronista e poeta acreano.
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