Cientistas famosos e conceituados
como o biólogo Richard Dawkins, o físico Stephen Hawking e Lawrence Krauss (ver
entrevista em Época) se declaram ateus em nome de descobertas e teorias
da ciência, e em razão do método científico fornecer provas.
Os argumentos utilizados se baseiam nas
evidências acerca da origem da vida em nosso planeta (biologia) e no que até
agora a astrofísica tem pesquisado sobre como o universo surgiu. A mais famosa
teoria, como todos sabem, é a de uma explosão inicial de energia. E isso do
nada.
Ora, na área
cultural que as religiões ocupam há milênios, seres superiores ou, no caso do
monoteísmo, Deus é a absoluta origem de todas as coisas. Para os gregos não
poderia haver criação a partir do nada. Impossível o não ser gerar o ser. Para
os cristãos, a geração divina de todas as coisas veio, sim, do nada. A pergunta
não é como Deus poderia ter criado tudo do nada, como fazem os cientistas, pois
assim usam uma questão científica para "provar" seu ateísmo. Os cristãos não
precisam sequer pôr esse tipo de questão, Deus é onipotente e isso basta para
aqueles que creem.
Não se pedem provas ou teorias para
amparar crenças, a base delas é a fé transmitida pela tradição
oral ou textos sagrados.
Quando um cientista faz profissão de fé
em uma teoria científica, comete alguns equívocos:
- a ciência exige revisão permanente,
todas suas teorias, ainda que sustentadas por cálculos e comprovação por meio de
testes e/ou instrumentos, devem permanecer abertas para revisão. A ciência não
pode se arvorar em palavra final. Se as teorias forem consideradas verdade
final, a primeira teoria considerada científica bastaria e até hoje professores
ensinariam a teoria de que tudo se compõe de terra, água, ar, fogo e éter
(física aristotélica);
- se a ciência é convincente e seus
resultados fantásticos, nem por isso ela ilumina corações e mentes com o
conforto espiritual proporcionado pela fé religiosa ou pela crença em
Deus;
- estados e
nações em que a ciência e as religiões ocupam lugares específicos com funções
próprias a cada uma delas, há maior tolerância e ambas são livremente
praticadas e respeitadas.
Nada disso justifica, porém, a
imposição de certas religiões ou chefes religiosos para que nas escolas em lugar
do ensino de ciência (física, biologia em especial) sejam adotadas uma doutrina
ou uma crença (criacionismo em lugar do darwinismo, por exemplo).
A
separação entre Estado, religião e educação é imprescindível
para assegurar a todos os cidadãos, justamente, que eles possam seguir uma
crença, se assim desejarem, e aprender, informar-se e formar-se nas diversas e
necessárias disciplinas escolares.
Essas reflexões que a abordagem
filosófica enseja não são uma condenação do ateísmo. O problema do ateísmo é
usá-lo como bandeira político-ideológica de defesa da ciência como saber
absoluto. Dessa forma ela, ciência, extrapola suas funções e se assemelha a uma
religião. Algo estranho e paradoxal: a fé no ateísmo...
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