Leila Jalul |
Irene Dantas do
Nascimento, educadora, ligada aos mistérios da aterrorizante matemática, era,
antes de qualquer coisa, uma anarquista. Graças a Deus!
Nem sempre polida,
como mandava a lei, às vezes era ‘aburrida’. Dizia na lata e na cara do freguês
o que pensava e julgava fora de propósito. Mandava qualquer um tomar no cu,
fosse preciso e inadiável.
Irene foi diferente
de tudo e de todos os pamonhas de ontem e de hoje. Crítica ao extremo, num
período que precisava ser dócil e calar diante dos generais. Irene era Irene. E
foda-se o mundo que ela era Irene e não Raimunda. Nem precisava contar até
dois. Ora, pois!
Filha de Porcina e
Venâncio, com licença, não veio ao mundo para se ajoelhar diante dos poderosos
e cagadores de regras.
Tê-la como amiga,
confesso, foi fundamental. Não tive a mesma pujança, mas, com certeza, com ela
aprendi a não dizer amém ou sim senhor, meu amo. Não com a mesma verve, claro!
Afinal ela era Irene!
Irene quase foi
presa por ter debaixo do braço o livro Seara Vermelha, de Jorge Amado. Foi o
maior ‘rebucetê’ da e na paróquia. Partiu para cima do pobre meganha e mandou
ver impropérios. Era 68, talvez, quando atuava no Gesca, o embrião do primeiro
sindicato dos professores do Acre. Chamou o cabrito de ignorante por não
conhecer Jorge Amado. Não foi presa. Teve o livro confiscado. Falar em
vermelho, desde aquele tempo, cheirava a comunista e comedor de criancinhas.
Que nem hoje, ora, pois! Os tempos regridem e as pessoas também, ora, pois,
pois, pois!
Que tenhas muita
paz, Irene. Com Porcina, Venâncio, Katita – tua bela irmã que se foi tão cedo e
com Armando, teu caçula.
Um dia faremos uma
mesa de baralho e ouviremos tua mãe a bodejar e dizer: diabos, estas raparigas
não têm o que fazer?
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