– Nunca espies o sexo de mulher. É horrível. É perigoso. Foge dele.
Mas isso só servia para excitar mais a
curiosidade do menino e o desejo de desobedecê-los.
Uma vez, andando pelos matos, Macunaíma
encontrou uma árvore muito alta, mas seca, de tronco bastante grosso e
escorregadio.
De um dos galhos daquela árvore, separado do
corpo, pendia um sexo de mulher.
E mesmo seco e mirrado era tão horrível
aquilo que Macunaíma viu logo não ser fruto enluado ou uma velha pele de
morcego.
– Lá está um sexo de mulher!
Macunaíma então se transformou imediatamente
num macaco-prego. E tentou escalar a árvore. E espiar de perto aquele sexo.
Mas o tronco era muito grosso e escorregadio.
E seus braços de macaco eram muito curtos. E Macunaíma não conseguiu escalá-lo.
Transformou-se, por isso, num quati. E não
conseguiu escalá-lo.
Transformou-se, ali mesmo, numa cobra. E também
não conseguiu.
Transformou-se numa lagartixa. E nada
conseguiu.
Transformou-se numa formiga. E, caminhando em
zigue-zague, pelo tronco acima, bem devagar, chegou perto do sexo de mulher e
pôde espiá-lo como queria.
Mas o sexo de mulher o descobriu. E, rápido,
o engoliu.
Muitos dias depois os irmãos de Macunaíma,
procurando-o pelos matos, ao passar por aquela árvore, viram o sexo de mulher,
que conheciam, gordo e viçoso.
Desconfiaram. Puseram a árvore abaixo. Abriram
aquele sexo. E ali acharam o corpo de Macunaíma. Sopraram sobre ele. E Macunaíma
acordou, rindo, rindo.
PEREIRA, Nunes.
Moronguêtá: um Decameron indígena (Vol.1). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira;
Brasília: INL, 1980. p.73
*Mitos, lendas, Estórias e Tradições dos Índios Taulipangue, Macuxi,
Uapixana e Xiriana, do Vale do Rio Branco, Roraima.
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