quarta-feira, 4 de outubro de 2017

ANGELO FERREIRA DA SILVA E OS INDÍGENAS (recorte de jornais)

Os índios da tribu catuquinas, que erram do rio Gregorio por “Athenas” e “Primavera”, seringaes deste termo, atacaram ultimamente a dos Jaminauás, que está muito reduzida, mataram diversos e queimaram-lhes o cupichaua, salvando-se os restantes pela fuga.

Consta o assassinato, pelos ditos catuquinas, de um rapaz, que, por ordem do governo, estava catequizando-os.

Os Jaminauás refugiaram-se nas imediações do seringal Primavera.

Há muito tempo não se dava correria de índios por estas paragens, enquanto existiu Angelo Ferreira da Silva, assassinado no dia 1.º de Julho de 1909, porque ele estava catechizando-os por ordem do general Thaumaturgo e depois, do dr. Bueno de Andrada.

Não será de estranhar que voltem eles à vida errante que levavam, antes de os ter chamado à si o dito Angelo.

Estas informações nos foram ministradas pelo sr. Francisco Cruz, empregado de Primavera que se acha nesta villa.

O Municipio, Ano II, N.37, 11 de Junho de 1911


OS SELVICULAS NO ALTO RIO
Há dois anos impedem o fabrico da borracha --- URGE provindenciar

Há dois anos que o alto Tarauacá e seus tributários nada produzem, acossados os extratores da gomma elástica pelos selviculas. Eis a consequência resultante do traiçoeiro assassinato do catechista por índole, o sertanejo Angelo Ferreira da Silva. Quando cahiu varado por balas do rifle o corpo daquele intemerato catechista, disso resultou o afastamento de perto de 600 aborigenes que viviam debaixo de seu mando e nós prognosticamos que, em tempo não muito remoto, os próprios assassinos haviam de se arrepender daquella crueldade. Eis as realidade de nossas previsões.

Há dois annos está o alto rio a braços com os indígenas, porque, sem aquelle arrimo quasi paternal, que lhes dava Angelo Ferreira, recomeçou a faina do caboclo meio domesticado – andar, furtar e flexar.

O governo não olha para isto, embora mantenha repartições com o pomposo carimbo de Protecção aos Selviculas, lançando mão para remediar o mal, de idiotas como Delfim Rosca Freire, que desiquilibrado como todos o conhecem, em logar de ir aos altos Tarauacá, Jordão, Formoso, Tejo e Douro, vae subindo no motogodille a remo vendendo as missangas e gêneros que recebeu para aqueles infelizes, provocando desordens, vexando aos comerciantes e proprietários que tem em sua companhia índios civilizados, criados desde o berço.

Essa não é a missão do encarregado de índios. O que lhe compete é visitar as malocas, confabular com aquelles, apazigual-os e aconselhal-os para que não pratiquem depredações nem furtos.

Os freguezes que acima citamos vivem nos barracões dos patrões, para se defenderem do rifle dos selviculas que, em numero superior a 300, andam matando e furtando, guiados por civilizados especuladores. A producção da gomma elástica, neste rio, no corrente anno, será diminuta, porque, para corroborar a crise, veiu a depredação indígena.
Urge providenciar.

O Municipio, Ano V, N.182, 30 de agosto de 1914

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