domingo, 8 de outubro de 2017

TRÊS POEMAS DE JOÃO VERAS

CORPOCÍDIO SEMENTE

Para Selvino Assmann (em memória)

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Censura ao corpo!
Esconde o corpo!
Camufla o corpo!
Pinta o corpo!
Veste o corpo!

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Elimina com tiros e facadas
degola
fatia
estripa
estraçalha
estilhaça
queima
enterra
maltrata
tortura o corpo!

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Comer corpo! Mastigar corpo! Ruminar corpo! Vomitar corpo!

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Todos contra o corpo!
Todo alvo é o corpo!

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Ponto final, termo, ocaso do corpo!
Morte ao corpo!

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Quando corpo é tudo e mais nada
para quem outra coisa não dispõe
na vida.

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30/09/2017


O INTERDITO SOBERANO
o quase poema canalha dedicado aos imbecis inteiros

Pode destruir a natureza?
Vendê-la a qualquer preço ou a preço nenhum?
Pode explorar até o talo a mão-de-obra humana?
Pode explorar a fé alheia?
Passar fome, passar frio, ser triste, não ter esperança?
Pode ser enganado, trapaceado?
Pode inferiorizar pela cor, pela dor?
Pode matar? Pode matar? Pode matar?
Pode roubar o dinheiro público?
Ser enganado pelo político populista?
Pode mostrar a mão?
Pode mostrar o braço? Pode mostrar as pernas?
Pode mostrar as coxas? Pode mostrar as costas?
Pode mostrar a cabeça? O cabelo pintado?
As partes da mulher em qualquer propaganda?
Seios, beiços, virilhas, bundas, pelos e não pelos rachados?
Os dentes, o sovaco, o nariz, as orelhas, as sobrancelhas, as pálpebras, as unhas, os dedos, os pés, a boca molhada?
Pode mostrar a cobrar morta?
Pode mostrar tudo isso e ainda o rosto?
- Pooooode!!!!!!!

E o que não pode?
- Mostrar o pau!

30/09/17


O MEU GRITO DE EDVARD MUNCH

Hoje eu acordei surdo de um nariz
Isto seria quase meia verdade
Não tivesse visto o latido da TV
Repetidamente calando sentidos
Com as ensurdecedoras onomatopeias:

- Lava-jato! Lava-jato!Laja-jato!!!!

27/09/17

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