Filosofia de todo dia
Quais
são as raízes de nosso pensamento?
São
várias e diversas: carga genética, experiências de vida, emoções, aprendizado,
influência do meio social e familiar, escolarização, entre outras; cada uma
delas, a seu modo, influenciará o modo de pensar e de ver o mundo, desde a
infância e em especial na idade adulta.
E
quanto à ideologia?
Mas
antes, o que vem a ser "ideologia"?
Em
um sentido positivo, são as ideias e conceitos que moldam a produção
intelectual, as visões políticas, inclusive as metáforas e a simbolização da
linguagem, e até mesmo certas utopias.
Vista
dessa maneira, trata-se de um conteúdo formado basicamente por ideias que podem
ajudar partidos e sistemas políticos a formular e a aplicar um ideário que pode
e deve ser aberto às discussões, ao aperfeiçoamento dos objetivos políticos e sociais,
e, principalmente, a leitura de sua época, às exigências de seu tempo.
Em
flagrante contraponto a essa modo de ver e de usar as ideologias, prepondera a
radicalização.
Em
primeiro lugar, a imposição de um conjunto de propostas que não passam pelo exame
crítico, pelo contrário, iludem, mascaram, seu objetivo é se transformar em
única bandeira de luta, com prévios acertos sobre o que entendem ser a
realidade social e política, capaz de produzir o que Marx chamara de
"falsa consciência".
Essas
ideologias visivelmente tendenciosas, conduzem aos extremismos de direita e de
esquerda. Os de direita distorcem a realidade em prol do conservadorismo, da
resistência às mudanças que a própria vida em sociedade produz. Se a sociedade
evolui em direção à tolerância religiosa, por exemplo, os ideólogos de direita
consideram que há um só credo "verdadeiro", o seu!
E
as ideologias de esquerda consideram que o capital, que a burguesia, que a
classe dominante também domina ideologicamente e impõe de cima a baixo seus conceitos,
ideias e concepções políticas. Não conseguem pensar a realidade social fora do
esquematismo "burguesia x trabalho". Que o socialismo é o único
regime que resolverá a contradição, que acabará com o lucro ("mais
valia") do capitalismo, intrinsecamente mau. Os olhos se fecham para a
realidade histórica.
***
Em
seu último boletim, a ANDES traz um artigo sobre o legado do direito soviético,
como "a obrigatoriedade do trabalho, o que fez da URSS o primeiro lugar do
mundo em que toda a população teve garantidas as condições para reprodução de
sua vida" (...) e, paulatinamente, reduzir a jornada de trabalho, ao
contrário do que acontece nas sociedades capitalistas, onde o Direito do
Trabalho tem como foco garantir a extração da mais-valia" (p. 16). É um resumo
da pesquisa do professor docente de Direito da Universidade Federal de Lavras,
Gustavo Seferian.
É
um caso evidente de distorção ideológica, só para ilustrar o direito do
trabalho surgiu na Europa, nos EUA e também no Brasil sem nenhuma lei que promova
o lucro. Mais adiante nesse artigo, reconhece que Stálin foi um
contrarrevolucionário. Mas que felizmente também o "Direito é passível de
alterações (sic), não só as favoráveis à burguesia, mas também alterações que
são reflexo das ofensivas e resistências dos trabalhadores".
Esse discurso ideológico eivado de conceitos que nem Marx usaria,
predomina ainda em vários setores da inteligenzzia
universitária.
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